Estamos num momento ímpar da história do Ministério
Público e o SMMP não soube catalisar as sinergias dos colegas, e do seu
descontentamento, de uma forma produtiva apresentado projetos e ideias.
Desde a problemática do novo Estatuto do Ministério
Público – sobre o qual os magistrados do Ministério Público não foram ouvidos
de uma forma eficaz e transparente que alertasse para se pronunciarem em tempo
útil – até à recente questão dos dias férias subitamente perdidos, passando por
toda a temática do mapa judiciário e das suas consequências concretas para a
vida dos colegas, suas famílias e dos utentes da Justiça, pelas instalações dos
Tribunais e sua conservação, pelo estatuto remuneratório, etc., o que se
constatou foi um silêncio quase total da SMMP.
E, como diz o povo, quem cala consente…
Na verdade, este problema foi uma constante: faltou
sempre proceder a uma efetiva audição dos sócios do SMMP e, depois, ao
despontar de uma voz ativa e altiva reivindicando direitos.
E eu não quero – nós não queremos – que esse estado
de coisas continue.
Alguma coisa precisa de ser feita.
Sim, eu também tenho pouco tempo disponível, muito
trabalho, más condições de trabalho…, enfim tudo o que os restantes colegas tão
bem conhecem no seu dia a dia.
Ainda assim abracei este projeto, quanto mais não
seja como suplente!
Fiz parte de duas anteriores Direções (primeiro como
vogal e depois presidente da Delegação de Évora do SMMP) e, por isso, posso
afirmar que as coisas não têm de ser assim.
De facto não eram assim.
Havia tempo para ouvir, para discutir – por vezes
acaloradamente –, para tertúlias..., mas esse espírito foi-se distanciando em
favor de um individualismo de cariz tecnocrático, fruto do zeitgeist e aparentemente simétrico da própria atuação do
Ministério da Justiça. A assunção das preocupações dos interesses dos
magistrados do Ministério Público agora apresenta-se de um modo formal e
estatística e não como algo substancial e pessoal (podíamos estar pior x%;
ainda vamos conseguir isto; o melhor é estar calado porque senão perdemos
aquilo; tivemos y% de resultados em 2020…).
Desde que sou magistrado a evolução no mundo
judiciário – a um nível físico e também simbólico – pode ser resumida
esquematicamente através da denominação dada ao local onde se serve a Justiça
ao cidadão:
Palácio da
Justiça > Domus Iustitiae
(Casa da Justiça) > Campus da Justiça
> E
agora ???
Sim, e agora o que se segue? a tendinha ou a roulotte
da justiça (assim mesmo com letra pequena)?
A propalada crise tornou-nos um parente pobre da Justiça
sem poder reivindicativo e (aparentemente) preocupada com grandes questões teóricas
e filosóficas, mas não se inquietando pública e reiteradamente em favor de
todos os “pequenos” problemas que impedem o desempenho das nossas funções com
dignidade e em favor da realização concreta da Justiça e da proteção dos mais
fracos.
Não se concorre contra ninguém mas a favor de um
conjunto de princípios e de valores que se querem ver respeitados.
Envolver-se em meta-discussões e não ver os problemas
reais que afligem todos os magistrados do Ministério Público não serve os
interesses da nossa classe.
Por outro lado, considerar que os sindicalizados no
SMMP estão desmotivados e não querem saber nem fazer nada, não se mobilizando,
é não conseguir ver objetivamente o problema.
Revela falta de capacidade de liderança – um dos
problemas identificado por este projeto – pois é essa liderança que serve de
catalisador para a mobilização: um líder fraco faz um SMMP fraco.
A mobilização consegue-se ouvindo as pessoas – o tal
ouvir e unir com transparência –, motivando-as e colocando à discussão as suas
inquietações e os seus problemas. Depois, AGINDO.
A modernidade coloca à nossa frente as ferramentas
para, de um modo simples mas terrivelmente eficaz, entrar mos pela vida dos
sócios do SMMP. Para interrogar diretamente e comprometer na construção do seu
próprio futuro.
Muitas vezes basta um simples SMS ou email pedindo uma resposta pelo mesmo
meio… Um simples sim ou não pode bastar para se decidir baseado na vontade
daqueles que se representa...
Mas não foi nada disto que ocorreu e, por isso, emerge
a necessidade de mudança porque a outra lista assume-se explicitamente como uma
“lista de continuidade”.
Carlos Alberto Casimiro Nunes
(procurador da República – DCIAP)
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